quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Brasil ainda vai levar 20 anos para erradicar o analfabetismo, diz Ipea

Análise indica que há "baixa eficácia" nos programas de alfabetização























O Brasil ainda vai levar 20 anos para erradicar o analfabetismo da população de 15 anos ou mais. O cálculo é do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que divulgou mais uma análise dos microdados da última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), que traz dados de 2008, feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A análise do Ipea indica que há “baixa eficácia” nos programas de alfabetização. O órgão diz que dos atuais analfabetos, apenas uma pequena parte frequenta a escola.
O texto afirma que há “problemas de desinteresse dos analfabetos em procurar os programas” e também  “erro de foco”, de “estratégias pedagógicas” e “sérias dificuldades de aprendizagem” dos alunos do ensino de jovens e adultos. O autor do estudo e diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Jorge Abrahão, explica as dificuldades de combater o analfabetismo:
- É uma população difícil de lidar porque grande parte é mais velha e já está há muito tempo no mercado de trabalho. As pessoas analfabetas fazem parte daquele enorme time da população com quem há uma dívida enorme. Não foi investido em educação o que precisava nos anos 50, 60 e 70, e essas pessoas tiveram dificuldade de acesso à escola.

Abrahão disse que acredita que o analfabetismo “pode ser reduzido por efeito de política pública”, mas no texto que assina explica que até o momento o analfabetismo só sofreu quedas por causa da  mudança na composição da população e da morte de pessoas mais velhas analfabetas.

- A queda do analfabetismo se processa fortemente pelo efeito demográfico e menos pelas iniciativas do governo ou da sociedade civil. Portanto, a queda do analfabetismo está ocorrendo pela escolarização da população mais nova e pela própria dinâmica populacional, com a saída dos idosos analfabetos [morte]”.
Os dados analisados mostram que a taxa de analfabetismo atinge 10% da população, 7,2 pontos percentuais a menos do que em 1992. O percentual é considerado elevado na comparação com outros países latino-americanos como o Chile, a Argentina e o Equador. A taxa de analfabetismo é maior na parcela um quinto mais pobre da população (19%), no Nordeste (19,4%), na área rural (23,5%), entre pretos e pardos (13,6%) e com mais de 40 anos (16,9%).
A desigualdade verificada na raiz do analfabetismo também é constatada em outros níveis de ensino, como por exemplo a educação infantil. A taxa de frequência à creche entre crianças de 0 a 3 anos é de 18,1% e menos de 80% dos meninos e meninas de 4 a 6 anos frequentam a pré-escola. Na faixa etária da creche, a frequência é menor entre as crianças da Região Norte (8,4%); pretas e pardas (15,5%); do meio rural (7,2%) e entre os mais pobres (10,7%).

Mesmo no ensino fundamental, onde o acesso à escola é considerado universal (97,9% das crianças e adolescentes de 7 a 14 anos frequentam bancos escolares), o Ipea sublinha o "hiato" do sistema educacional brasileiro no século 21. Abrahão aponta que apenas 55 em 100 alunos que concluem o ensino fundamental estão na idade adequada (9º ano, com 14 anos de idade).
- A eficiência sistêmica deixa muito a desejar.
Para Abrahão, a chamada “defasagem idade/série”, causada pela reprovação e retenção dos alunos, afeta a autoestima de quem fica na escola e aumenta os gastos com educação.
- Os estudantes permanecem no sistema além da idade prevista e do tempo necessário para conclusão, reduzindo a quantidade de recursos disponíveis para aqueles alunos que avançam normalmente e de acordo com a sua idade.

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